Desde sempre, viajar significa mais do que conhecer lugares. É um encontro com o outro. Nessa jornada, o guia de turismo assume um papel essencial, atuando como ponte entre culturas. Defendo que, hoje, mais do que nunca, o guia é um agente de conexão, capaz de transformar turismo em uma experiência intercultural. Ele não é apenas em observador superficial.
Pesquisadores apontam que o guia desempenha a função de mediador e de educador cultural, facilitando o entendimento do visitante sobre tradições, história e identidade dos destinos. Ele não apenas apresenta pontos turísticos; ele interpreta, contextualiza e gera empatia. Um estudo publicado pelo Instituto Federal de Sergipe mostra que o guia “é elemento fundamental na formação de experiências culturais significativas, funcionando como tradutor simbólico entre visitantes e comunidades”.
Pesquisas internacionais também reforçam essa tese. Em Cappadocia, na Turquia, visitantes que reconheceram a competência cultural dos guias relataram níveis significativamente maiores de satisfação geral, intenção de recomendar e vontade de retornar. O estudo, publicado na Tourism Management, principal revista acadêmica com foco na gestão, incluindo planejamento e políticas, de viagens e turismo, concluiu que “a qualidade da mediação cultural influencia diretamente a experiência turística”.
No Brasil, há exemplos que materializam essa visão. Em Paraty RJ e Ubatuba SP, comunidades indígenas e quilombolas criaram iniciativas de turismo de base comunitária, nas quais os próprios guias locais compartilham histórias, saberes tradicionais, música e práticas agroecológicas. A Rede Nhandereko, que promove nos territórios um turismo valoriza e protagoniza o modo de vida tradicional, mostra como indígenas e afrodescendentes podem narrar sua própria história para visitantes, gerando empoderamento cultural e renda. Como destacou o jornal El País, “o turismo ancestral na costa brasileira é ferramenta para que indígenas e afros contem sua própria história”.
O valor dessa abordagem vai além da estadia, porque constrói memória, pertencimento e compreensão. Um guia que narra sua própria cultura ou que, com sensibilidade, interpreta a cultura alheia, atua como mediador entre mundos distintos. Esse papel fortalece a construção de um turismo respeitoso, educativo e transformador.
No entanto, a conexão cultural continua longe de ser padrão nos roteiros de massa. Vivemos uma dissonância entre o discurso colorido sobre turismo cultural e a realidade de itinerários rápidos e superficiais. A pergunta que deixo aqui é direta: estamos valorizando esse papel do guia como elo entre culturas ou persistimos num formato que padroniza experiências, mas enfraquece identidades?
Concluo este artigo reafirmando minha convicção: o guia de turismo é um agente cultural com poder de transformação social. Ele pode, e deve, ser protagonista na promoção do respeito, da diversidade e da troca cultural. Um guia de turismo que valoriza essa mediação constrói pontes entre povos. E essa, sem dúvida, é a sua maior missão.
Ana Macêdo